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O segundo turno das eleições será no próximo dia 28. E as discussões políticas que têm tomado conta das conversas entre amigos, familiares e no ambiente de trabalho prometem continuar até lá. Mas até que ponto é possível se envolver em debates sobre política dentro da empresa sem prejudicar a carreira?

Para o diretor de liderança e gestão de pessoas da Associação Nacional dos Executivos de Finanças, Administração e Contabilidade (Anefac), Emerson Weslei Dias, todos têm direito de expor suas convicções. No entanto, é preciso ter cuidado redobrado no ambiente corporativo, já que hoje muitas pessoas acabam perdendo a compostura. “Se você tem um candidato preferido, não há problema em se manifestar, mas tenha em mente que os outros também têm esse direito”, alerta.

Segundo ele, entrar para uma conversa sem disposição para realmente ouvir o outro com certeza não vai dar certo. “É saudável mostrar por exemplo os motivos que o fizeram escolher X ou Y”, diz.

Para o consultor de carreira Roberto Recinella, o profissional não pode ter medo de dizer o que pensa, afinal, a contradição faz parte do processo democrático, mas para não entrar em armadilhas, além de usar argumentos racionais, é preciso existir educação, respeito e cordialidade, além de bom senso de saber a hora de parar.

“Como disse Voltaire, ‘posso não concordar com uma só palavra sua, mas defenderei até a morte o seu direito de dizê-la’. Essa é a essência da liberdade democrática”, comenta.

Para Recinella, é preciso expor as convicções com muito respeito e cautela, evitando comentários irônicos, pois atualmente está difícil dar opiniões sem ser ofendido.

“As pessoas estão cada vez mais radicais e intolerantes, especialmente nas mídias sociais, basta discordar para ser atacado. As pessoas vivem cada vez mais isoladas e reféns de suas próprias opiniões, falando apenas para seus partidários ou seguidores, ficando assim presos em seu viés de confirmação”, afirma.

De acordo com Dias, inteligência emocional é o segredo para não exagerar. Ele explica que com a consciência emocional é possível perceber que o assunto pode despertar emoções fortes. Nesse caso, será necessário outro elemento da inteligência emocional, que é a tolerância ao estresse e o controle de impulsos.

“Equilibrar tudo isso dará a capacidade de manter a conversa no nível e tom adequados”, afirma.

O consultor de carreiras cita ainda a responsabilidade social, que é saber apaziguar os ânimos e não colocar mais gasolina na fogueira, o que pode prejudicar o clima da organização.

Raphael Falcão, diretor da Hays, considera que o mais indicado é analisar e discutir política de acordo com o impacto que ela pode ter no negócio, e não fazer um reflexo ideológico, que pode ser feito em ambientes mais apropriados como em casa ou com os amigos.

“Faz sentido pensar em como cada candidato pode interferir no mercado de sua empresa. Rechaçar ou defender algum nome com aspectos de cunho pessoal pode ser prejudicial”, explica.

Segundo ele, os profissionais devem procurar expor suas convicções de maneira apartidária, como falar dos valores que são importantes para eles.

Happy hour e almoço

Para Recinella, falar de política em happy hour pode ser perigoso, pois bebidas alcoólicas acabam aflorando argumentos emocionais, criando um ambiente de conversa tóxico.

E, se for inevitável a conversa sobre as eleições nas refeições com os colegas, é indicado ser cortês e não polemizar muito para não estender a discussão desnecessariamente.

“Lembre-se que as pessoas estão muito sensíveis ao tema, e por se tratar de um ambiente público, a conversa pode sair de controle, incomodar ou envolver outras pessoas ao redor”.

Segundo Falcão, não dá para fugir e nem desviar do assunto, pois pode soar como antissocial, por isso, o assunto deve ser tratado de forma neutra. “Falar de política não é necessariamente falar de candidato e partido”, afirma.

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Em quem você vai votar?

E se o chefe ou o colega perguntar em quem o profissional vai votar?

Para Recinella, é uma decisão muito pessoal, pois depende do grau de intimidade, de confiança e até de radicalização do outro.

“Não é deselegante educadamente se recusar, dizendo que não se sente confortável em externar o voto. Ou dizer que está em dúvida e ainda está avaliando os candidatos”, recomenda.

Segundo ele, se optar por declarar o voto, o profissional escolherá um lado, e se houver rivalidade, ela não terminará após o resultado das eleições, e isso não é saudável no ambiente de trabalho. “Lembre-se que o seu voto é secreto, ninguém saberá em quem você realmente votou”, completa.

Falcão acha que se o profissional disser ‘não vou te contar’, será no mínimo antipático. E a melhor saída é tentar neutralizar a conversa para gerar um debate, ao invés de um conflito, que pode ser prejudicial no ambiente de trabalho.

“Se você divide a informação do voto com um colega e ele começa uma série de críticas contra o candidato, você não deve polemizar, mas agradecer pelas informações apontadas e falar que irá buscar mais informações sobre o candidato”, indica.

Em caso de a empresa pedir para os funcionários apoiarem um determinado candidato, Recinella diz que a prática configura abuso de poder. A Justiça, inclusive, já se posicionou em um caso real: no último dia 3, proibiu que a rede de lojas Havan e seu proprietário pressionem funcionários para votar em determinado candidato e exigiu retratação.

Redes sociais e notícias falsas

Sobre postagens nas redes sociais, Dias ressalta que é preciso ter em mente que as redes sociais são uma extensão de quem o profissional é. “Logo, debates acalorados que levam para o lado da ofensa, do preconceito ou que evidenciem a falta de informações corretas e verdadeiras só irão prejudicar a imagem”, salienta.

Recinella sugere que o profissional seja reservado em suas publicações “neste período de intransigências virtuais”. Segundo ele, é possível expor ideias e preferências, mas com argumentações sólidas, sem entrar em discussões inflamadas, para preservar a imagem, já que o que foi escrito ficará registrado e poderá ser usado contra a pessoa.

“Acredito que todos têm o direito de expressar a sua opinião e apoiar quem bem entender, mas infelizmente nas mídias sociais isso está cada vez mais difícil de fazer devido ao ambiente hostil em que elas se transformaram”.

Falcão considera que nas redes sociais profissionais, a exposição deve ser no âmbito da carreira. Nas redes de cunho pessoal, existe maior liberdade em se posicionar da forma que se sentir confortável. “A questão é estar ciente de não misturar os públicos e achar que ao falar com seus familiares e com pessoas que não conhece, ambos terão o mesmo entendimento da mensagem. Nas redes sociais profissionais é preciso se posicionar com isenção”.

Dias alerta que é preciso ter cuidado ao disseminar notícias falsas. “Use sempre fontes confiáveis para coletar informações, como jornais e revistas de reputação, sites oficiais como do Tribunal Superior Eleitoral”, recomenda.

Para Recinella, pega mal se precipitar ao enviar uma notícia achando que é “furo” do ano. “As notícias falsas estão crescendo exponencialmente. Então compartilhá-las pode abalar a credibilidade dentro e fora da rede. Além disso, dependendo do caso, pode ser considerado até crime”, afirma.

Falcão diz que as pessoas tendem a tomar as notícias falsas como verdade, o que não é indicado. Para ele, a melhor forma de lidar com isso, além de questionar a fonte da informação, é levantar a discussão para promover a discussão e conscientização sobre o tema.

Veja as dicas de Recinella:

  • Avalie se você realmente deseja debater com as pessoas;
  • Evite falar sobre as eleições com seus superiores ou no meio do grupo ou plateia;
  • Aprenda a medir bem as palavras utilizando fatos em vez de opiniões pessoais acaloradas. Para isso, é preciso estar bem preparado, não fale sobre o que não conhece;
  • Aprenda com a política, dê a sua opinião, mas não se exponha demais;
  • Quem perde a cabeça perde a razão. As eleições passam e os relacionamentos ficam;
  • Combata as notícias falsas verificando antes a origem dos fatos.

Fonte: Marta Cavallini, G1

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